Review: Os Livros da Magia, de Neil Gaiman

Esse post é praticamente o sucessor espiritual do post da semana passada sobre Os Livros da Magia, do mestre Neil Gaiman. Então passarei direto sobre a introdução para partir pro que interessa. Caso não tenha lido, fique a vontade para abrir mais uma aba no seu navegador, e aproveite para ler os nossos outros posts.


Quem acompanha a carreira de Neil Gaiman sabe que ele costuma construir seus universos se utilizando de muita fantasia, onde a linha entre o real e o imaginário é tênue por demais. Os Livros da Magia (que, se eu ainda não fiquei louco, não tem nenhum livro no enredo) se passa no universo do Superman e do Batman que conhecemos, mas sem deixar de lado este aspecto. Para mim, se resume como uma viagem pelos recantos mais distantes deste universo, usando a história da magia como plano de fundo para sentarmos confortavelmente e nos deixarmos embarcar nesta jornada sem destino definido.

"Sinto muito. É o que tenho que fazer. A magia não dá liberdades, amigo pupilo. Tudo que ela compra tem que ser pago."

Tim Hunter, o protagonista, tem seu brilho ofuscado pelos demais personagens principais. Sua forma de agir frente aos acontecimentos dos quais participa não ajuda a criar uma personalidade memorável a esse personagem totalmente novo. Suas reações são iguais as minhas ou as suas caso tivesse sua idade e passasse pela mesma situação: um pouco de receio (no início), muita curiosidade e um pouco de insegurança. Não dá para negar, também, que um protagonista que poderia ser eu ou você funciona muito bem para a mensagem que uma fábula quer passar. E se tem alguém que entende de fábulas, é Neil Gaiman.


O coadjuvante que mais rouba a cena não poderia deixar de ser John Constantine. Não adianta: Alan Moore criou um personagem que, sempre que for bem escrito, vai canalizar as atenções. Sua edição como tutor de Tim, a segunda, é uma das melhores - ainda mais para quem já está familiarizado com os outros personagens do Universo DC. Só nesse capítulo aparecem personagens como Boston Brand, Madame Xanadu, Espectro, Zatanna, Doutor Destino e Felix Fausto. 


"Pois são apenas dois os mundos que existem: o teu, que é o mundo real, e outros mundos de fantasia. Mundos como este são mundos da imaginação humana: a realidade deles, ou a ausência da mesma, não importa. O que importa é que estão onde estão. Estes mundos fornecem uma alternativa. Um escape. Uma ameaça. Fornecem um sonho, e poder e refúgio, e dor. São eles que dão sentido ao teu mundo. Eles não existem, e portanto são tudo que importa. Entendes?"

O capítulo com o Doutor Oculto no reino das fadas também é  um dos pontos altos. Tem muitas referências ali, e confesso que pesquei apenas algumas. As vezes me senti lendo uma obra do Morrison, em que releio na expectativa de captar o que não entendi e me frustro novamente. Não é só o protagonista que se sente perdido.  Vale destacar também a participação dos Perpétuos Sonhar (parte 3), Destino e Morte (parte 4), talvez as maiores criações da carreira de Gaiman, no clássico Sandman.



A história tem sim um clímax e um final, mas dá para se dizer que o mérito é muito mais da jornada até ali. Podemos notar o domínio narrativo do autor ao analisarmos tudo o que passamos nesta obra. Embarcando junto com um garoto aos diversos mundos da magia, nos vemos refletindo sobre o passado, o mundo ao nosso redor, os universos que vivem dentro da nossa cabeça e os possíveis futuros que podemos encontrar. Ao nos reconhecermos em Tim Hunter, entendemos que a magia cobra seu preço, assim como todas as decisões que tomamos em nossa vida. Não temos o destino de nos tornar o maior mago desta época, mas, assim como Tim, temos a escolha de assumir riscos ou optar por uma vida mais fácil e segura. A decisão sempre é nossa.

"Se optar pela magia, nunca vai poder retornar à vida que já viveu. Seu mundo será mais...empolgante. Mas também mais perigoso, menos confiável. E, assim que adentrar a trilha da magia, nunca poderá deixá-la."

 Recomendado para: quem curte a fantasia sombria do autor, o modo grantmorriano de ficar perdido nos roteiros ou o fascínio que os mundos desconhecidos da magia exercem.

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