Capitão Phillips (2013)



Volta e meia aparece um daqueles filmes que fizeram completamente o dever de casa pra dar as caras no Academy Awards.
Porque, sendo historia de superação, biográfica, e com ator veterano, já é abrir as portas pra pelo menos estar na lista.


O novo filme de Paul Greengrass é o trabalho de um cara que manja especialmente de uma forma de ser comercial, parecendo que não é.
O melhor jeito de perceber isso é analisando seus filmes anteriores, especialmente nas parcerias com Matt Damon.
Com alcance pro grande público, e sendo filme de ação, mas sem ser filme de ação conforme Hollywood exige.
Em Capitão Phillips, ele pede a Tom Hanks pra ser o personagem-título em uma trama que relata a historia baseada em fatos do capitão Richard Phillips, em um dia de trabalho conduzindo um navio por águas infestadas por piratas dos dias de hoje.
O caldo desanda e ele tem que sobreviver, em uma trama que envolve o governo dos EUA pra livrar ele de virar moeda de escambo.

A primeira coisa que se percebe em Capitão Phillips é a tentativa de definir o protagonista em poucas cenas.
Breves diálogos com a esposa, e alguns takes burocráticos no comando da embarcação e já está dito quem ele é, e não espere alguém muito carismático, ou algo assim.
A atuação do Tom Hanks é correta, ficando no automático por tempo demais.
Em determinado momento, lógico, vai acontecer de o frio e calmo Phillips enfim perder a compostura, mas é com certeza algo que faz falta em boa parte do filme.
O personagem dele está no controle, e isso não serve pra tornar mais dramático o andamento.
Sobra então um olhar crítico pertinente do diretor, e seu roteiro.
A participação do governo estadunidense desempenha papel determinante pros rumos da historia, mas o que se destaca é a forma como ocorre.
Nesse quesito, meu comentário termina por aí, porque qualquer coisa a mais correria o risco de entregar algo.


No resto, o filme é bem filmado tal qual é praxe e exigido.
Há tensão em várias cenas, e um bom uso do elemento “espaço confinado”.

Mas com certeza não seria nada demais não fosse pela presença do elenco interpretando os piratas oriundos da Somália, que é toda força de atuação que em Tom Hanks fica mais no seu curriculum vitae do que em demonstração prática no filme. E não me entendam mal. Ele está em atuação competente, mas um filme desses, com poucos personagens, e ainda mais, sendo algo de final mais ou menos esperado, ficava expectativa de algo mais dele.

O que compensa, conforme eu comentei acima, é o elenco formado por Barkhad Abdi (merecidamente indicado ao Oscar), Faysal Ahmed, Barkhad Abdirahman e Mahat M. Ali, que traz veracidade a cada diálogo, e equilibra as cenas que seriam mornas caso dependessem do protagonista metido a manipulador.
São eles que garantem os momentos de tensão que sustentam o filme.


Além disso, Capitão Phillips não consegue mascarar sua estrutura esperada de filme de superação.
Isso apenas faz sua metragem longa e quem sabe essa seja minha maior crítica ao filme. E eu digo isso até ressaltando que em tempos imemoriais há não muito tempo, muito cineasta conseguiu longa-metragens absurdamente tensos, com muito menos tempo de filme, e sem precisar sempre de um close a mais pra ambientar.
Esse é um cacoete hollywoodiano moderno.
Mas pra ruim, claro, o filme também não serve. Só não convém exagerar.
Capitão Phillips é mais que nem Argo: bem filmado e com algumas boas ideias. Mas longe de ambas serem clássicos modernos memoráveis, e mais longe ainda do que as indicações e premiações quiseram fazê-los ser.
De memorável, pra mim, é que dessa vez Tom Hanks foi bem menos marcante do que uma bola de vôlei já foi.


Quanto vale: 


Capitão Philips. Recomendado para: quem busca uma desconfortável viagem marítima, que ainda assim vem com uma boa dose de entretenimento.

Capitão Phillips
(Captain Phillips)
Direção: Paul Greengrass
Duração: 134 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Thriller/Suspense

Confere NESSE LINK  a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.


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