REVIEW: PITECO - INGÁ



Sendo a obra que concluiu a primeira fase do projeto Graphic MSP, Piteco - Ingá cumpre seu papel e consegue se destacar no meio da leva inicial. Escrita e desenhada pelo artista paraibano Shiko, a obra funciona como uma aventura, uma missão de resgate, pelo Brasil pré-histórico. É interessante como cada obra do selo procura se afastar bastante das anteriores e posteriores, tanto em roteiro e arte como em temática e abordagem.

O primeiro ponto a se destacar é a arte, que está simplesmente fantástica. Não apenas o traço, mas também a arte-final em aquarela são dois dos pontos altos. Cada paisagem pintada ajuda a entrar no clima da viagem dos protagonistas, ajudando a expressar o momento do enredo. Não é difícil ficar um pouco mais depois de cada página lida, apenas contemplando os desenhos.


O segundo ponto que merece meu destaque é a caracterização dos personagens. Junto de Astronauta - Magnetar, é a que mais se afasta dos personagens do Maurício, muito mais do que Laços e Pavor Espaciar, de forma a aproveitar apenas seus conceitos, desenvolvendo eles de acordo com o rumo que Shiko bolou para o enredo. Thuga agora é uma sacerdote, Piteco continua sendo um caçador, mas dessa vez deslocado da sua aldeia de agricultores, a Ogra (quem?) é a única guerreira da aldeia e Beleléu virou um cientista mais sério.

E funcionou muito bem, principalmente porque o autor deve ter tido um trabalhão em pesquisas históricas e culturais, e conseguiu aplicá-las na obra sem parecer um livro didático do ensino médio. Além de elementos como a Pedra do Ingá indicarem que a história se passa no Brasil, são incluídos elementos do folclore nacional e latino, como o curupira (Arapó-Paco), a boitatá (M-Buantan). Tem também alguns que não tinha reconhecido, como o Morcego Gigante. Pra quem também ficou curioso, uma rápida pesquisa no google me diz que é Camazotz, da região dos Andes.


Meu puxão de orelha fica mais uma vez para a duração da obra. Shiko mesclou referências e criou um universo rico e interessante para o Piteco, mas teve que encerrá-lo muito cedo. Contando com mais ou menos 70 páginas de história para (re)introduzir os personagens, realizar a jornada e mostrar o desfecho, mais umas 20 ou 30 proporcionariam a chance do autor poder diminuir a marcha da narrativa e ampliar pelo menos o clímax. Pelo padrão, é o tamanho estipulado para cada graphic novel do selo, o que é uma pena.

Por fim, Piteco - Ingá fecha muito bem esta primeira leva, com, na minha opinião, a melhor arte e reinvenção dos personagens clássicos. Para quem está colecionando a série, é obrigatório. Para quem não está, é uma ótima oportunidade de começar a conferir este belo trabalho.

Recomendado para: quem quer descobrir como funcionaria uma quest de resgate de um mmorpg situado em território nacional e protagonizado por personagens da nossa infância.


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