Usar a simplicidade
a seu favor é um dos recursos mais importantes pra um diretor de
cinema.
É a capacidade de
surpreender a partir dos mínimos detalhes, não precisando
necessariamente de um orçamento de blockbuster pré-moldado pra
prender atenção do público, e ser lembrado após os créditos
finais.
Pra esse filme novo
do Stephen Frears funcionar seria exatamente isso que ele
precisaria pôr em prática.
Isso porque, não
tem aparentemente nada demais na produção, que na maior parte do
tempo acompanha Judi Dench e Steve Coogan dialogando.
Provavelmente a
frase acima não tornou o filme interessante pra ninguém.
E acho que não
tenha nenhuma sinopse em que eu possa pensar do filme que consiga
isso.
A trama baseada em fatos reais acompanha a
personagem de Judi Dench (a Philomena do título), que
busca o seu filho perdido quando ele ainda era um bebê.
Nesse ínterim,
surge a possibilidade de o jornalista em momento complicado na
carreira, Martin Sixmith (Steve Coogan), auxiliá-la, enquanto
parte do ofício dele.
Entre os dois
personagens, que são onipresentes no filme, os diálogos precisam
ser orgânicos e perfeitos, porque senão, a trama simplesmente não
consegue transcorrer sem que a falta química fique limitando a
imersão do público.
E pode até parecer
desencontrado eu falar em “imersão” em uma frase que não fala
em 3D.
Pois é.
Mas o 3D é só uma
ferramenta a mais. Um bom roteiro e boas atuações podem conseguir
muito mais imersão da platéia do que um novo (ou mesmo o primeiro)
“Avatar” do James Cameron.
O longa-metragem do
Stephen Frears é prova disso.
O que começa morno
(mas com certeza não desinteressante) vai ganhando forma à medida
que seus personagens vão se desenvolvendo e vai ficando constatado o
equilíbrio entre o peso da trama, e dos próprios dramas pessoais
deles.
Não é uma série
de reviravoltas que visa salvar alguns filmes. E nem atuações
extremadas que compensam um roteiro frouxo e convencional.
É o bom uso de cada
recurso à disposição pra criar um filme, e não um videoclipe.
Com a sutileza
britânica os atores compõem seus personagens sem que seja
necessário cara de choradeira ou gritaria e quebração de prataria
pra deixar claro o quanto o enredo os afeta.
Enquanto procuram
pelo filho desaparecido da personagem-título, as questões
envolvendo religião e perdão vão se delineando sem receio de
questionar os pontos polêmicos dessa historia, e
felizmente, sem os maniqueísmos e estereótipos tão recorrentes nos
roteiros atualmente quando de alguma forma existe possibilidade de
questionar religião.
É um trabalho
inteligente dos roteiristas Jeff Pope e do próprio Jeff Coogan, que deixam para o
público emitir uma opinião a partir do que é apresentado, e assim
evitando regurgitar pré-julgamentos que a platéia tem que comprar
ou suportar caso decida ver um filme até o final.
O drama no filme
“Philomena” aposta nessa naturalidade e com uma escolha de
elenco perfeita (que conta ainda com Michelle Fairley, do seriado Game
of Thrones) e Sophie Kennedy Clark (do Ninfomaníaca - Parte 1) supera eventuais expectativas formadas com base em
cartaz e sinopse.
Não é filme com
cara de grande vencedor da noite do Oscar, mas é uma sessão de
cinema de qualidade que muito filme multi-premiado é incapaz de
proporcionar.
Quanto vale:
Philomena.
Recomendado para: ver um bom filme que após a cerimônia do Oscar
não vai ser dos mais locados nas esparsas locadoras do planeta.
Philomena
(Philomena)
Direção:
Stephen Frears
Duração: 98 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: DramaSign up here with your email
EmoticonEmoticon