Philomena (2013)



Usar a simplicidade a seu favor é um dos recursos mais importantes pra um diretor de cinema.
É a capacidade de surpreender a partir dos mínimos detalhes, não precisando necessariamente de um orçamento de blockbuster pré-moldado pra prender atenção do público, e ser lembrado após os créditos finais.
Pra esse filme novo do Stephen Frears funcionar seria exatamente isso que ele precisaria pôr em prática.
Isso porque, não tem aparentemente nada demais na produção, que na maior parte do tempo acompanha Judi Dench e Steve Coogan dialogando.
Provavelmente a frase acima não tornou o filme interessante pra ninguém.
E acho que não tenha nenhuma sinopse em que eu possa pensar do filme que consiga isso.



A trama baseada em fatos reais acompanha a personagem de Judi Dench (a Philomena do título), que busca o seu filho perdido quando ele ainda era um bebê.
Nesse ínterim, surge a possibilidade de o jornalista em momento complicado na carreira, Martin Sixmith (Steve Coogan), auxiliá-la, enquanto parte do ofício dele.
Entre os dois personagens, que são onipresentes no filme, os diálogos precisam ser orgânicos e perfeitos, porque senão, a trama simplesmente não consegue transcorrer sem que a falta química fique limitando a imersão do público.
E pode até parecer desencontrado eu falar em “imersão” em uma frase que não fala em 3D.
Pois é.
Mas o 3D é só uma ferramenta a mais. Um bom roteiro e boas atuações podem conseguir muito mais imersão da platéia do que um novo (ou mesmo o primeiro) “Avatar” do James Cameron.
O longa-metragem do Stephen Frears é prova disso.


O que começa morno (mas com certeza não desinteressante) vai ganhando forma à medida que seus personagens vão se desenvolvendo e vai ficando constatado o equilíbrio entre o peso da trama, e dos próprios dramas pessoais deles.
Não é uma série de reviravoltas que visa salvar alguns filmes. E nem atuações extremadas que compensam um roteiro frouxo e convencional.
É o bom uso de cada recurso à disposição pra criar um filme, e não um videoclipe.
Com a sutileza britânica os atores compõem seus personagens sem que seja necessário cara de choradeira ou gritaria e quebração de prataria pra deixar claro o quanto o enredo os afeta.


Enquanto procuram pelo filho desaparecido da personagem-título, as questões envolvendo religião e perdão vão se delineando sem receio de questionar os pontos polêmicos dessa historia, e felizmente, sem os maniqueísmos e estereótipos tão recorrentes nos roteiros atualmente quando de alguma forma existe possibilidade de questionar religião.
É um trabalho inteligente dos roteiristas Jeff Pope e do próprio Jeff Coogan, que deixam para o público emitir uma opinião a partir do que é apresentado, e assim evitando regurgitar pré-julgamentos que a platéia tem que comprar ou suportar caso decida ver um filme até o final.


O drama no filme “Philomena” aposta nessa naturalidade e com uma escolha de elenco perfeita (que conta ainda com Michelle Fairley, do seriado Game of Thrones) e Sophie Kennedy Clark (do Ninfomaníaca - Parte 1) supera eventuais expectativas formadas com base em cartaz e sinopse.
Não é filme com cara de grande vencedor da noite do Oscar, mas é uma sessão de cinema de qualidade que muito filme multi-premiado é incapaz de proporcionar.



Quanto vale:



Philomena. Recomendado para: ver um bom filme que após a cerimônia do Oscar não vai ser dos mais locados nas esparsas locadoras do planeta.

Philomena
(Philomena)
Direção: Stephen Frears
Duração: 98 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Drama

Confere NESSE LINK  a crítica de outros indicados ao Oscar 2014.


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