Finalmente vi Elysium, o segundo filme hollywoodiano de Neil Blomkamp, um diretor sul-africano que ficou famoso por Distrito 9, lançado em 2009.
Blomkamp é amigo de Peter Jackson, o hobbit mais rico da história. O diretor de O Senhor dos Anéis resolveu investir na produção do filme do amigo, gastando perto de 30 milhões de dólares para lançar Distrito 9, considerado um dos melhores filmes do ano. Uma ficção científica de qualidade com um forte apelo social, Distrito 9 discute o apartheid de forma severa e sem escrúpulos. Não há espaço para metáforas aqui, o que vemos é a verdade nua e crua sobre a alegada superioridade de uma raça sobre a outra.
Em Distrito 9, Blomkamp lançou Sharlto Copley a um sucesso inaudito, principalmente na comunidade de fãs de Sci-Fi (além de Distrito 9 e Elysium, ele ainda faria Europa Report, um filme interessante sobre a primeira viagem humana à lua Europa, em Júpiter). Copley interpreta o burocrata Wikus van der Merwe, um sujeito que poderia ter a frase “eu não sou racista, mas...” estampada em uma camiseta. Se o filme tivesse sido rodado no Brasil, ele teria o bordão “Imagina na Copa!” sempre na ponta da língua.
Copley retorna a parceria com o diretor Blomkamp em Elysium, mas no papel de coadjuvante. Afinal, o filme agora é patrocinado pela Sony e tem um orçamento 4 vezes maior. Era necessário um ator a altura e o papel coube a Matt Damon. Escolha infeliz, tanto quanto o resto. Há um certo endeusamento da comunidade cinéfila pelo papel do Diretor. Nas grandes premiações, o troféu de melhor diretor(a) só perde em prestígio para o de melhor filme. Tal fato não é completamente desprovido de fundamento. Afinal, o sujeito, além de sentar na cadeira principal e ser o único a gritar com todos, do cara que serve o cafezinho à estrela que ganha 20 milhões de estalecas para dizer duas falas, ele pode, se tiver talento, transformar uma grande história em um filme inesquecível. Ou fazer um filme decente de uma história boa. Mas não é capaz de fazer um filme bom de uma história ruim.
E este é o primeiro grande problema de Elysium. O roteiro tem mais furos do que um queijo suíço. E não estou falando daquele desligamento da realidade necessário para ver um filme de ficção científica ou fantasia. O roteiro é mal escrito, mesmo.
Elysium é uma estação espacial flutuante que mantém os ricos afastados de uma Terra semi-moribunda. Ninguém pode subir até lá sem autorização, mas naves ao estilo “coyotes” tentam alcançar Elysium, uma maravilha tecnológica cheia de robôs de combate que nunca aparecem quando são necessários. Wagner Moura, que interpreta Spider, invade o centro de comando de Elysium com dois mercenários. E os guardas robôs? Não sabemos. Eles não aparecem. Deveriam estar tomando chá de óleo. Ou discutindo a dialética de Kant.
O fio da meada está nas tais “camas de cura”, disponíveis somente em Elysium, que podem curar cidadãos (cidadãos são os sujeitos que têm uma identificação gravada na pele, mas que qualquer traficante de meia tigela pode lhe conseguir ) de qualquer coisa, inclusive reconstruir membros inteiros. Porque só está disponível para os ricos? Não sabemos. A tecnologia é cara? Aparentemente, não, pois qualquer casa tem uma cama dessas dando sopa. E, apesar de todos possuírem as camas, ainda há naves cheias de “camas de cura” prontas para partir. Partir para onde? E porque, se tem camas em tudo que é lugar? Mistérios, mistérios...
No final, parece que os ricos de Elysium só são sádicos. Ou ricos. Ou ambos.
E a questão só piora. Os diálogos são ruins e os personagens, mal construídos. Alice Braga interpreta uma enfermeira genérica que só está ali para mostrar a filha com câncer. Copley é um mercenário sádico que é convocado pela secretária de Defesa, Jodie Foster, sabe-se lá por que. Suas ações são imprevisíveis não porque ele é um sociopata. É porque a história não faz sentido, mesmo. Jodie Foster consegue iniciar bem, mas se perde no meio da maçaroca sem sentido da história. E Damon faz a pior atuação da sua vida; ele deve ter assinado antes de ler a bomba que tinha sido reservada por ele e sua interpretação deve ter arrancado lágrimas do cigano Igor.
O único que se salva é Wagner Moura, apesar do seu personagem não saber muito bem se é um revolucionário buscando igualdade ou um sujeito que simplesmente quer ganhar dinheiro à custa da miséria dos seus iguais. De qualquer forma, a sua atuação é convincente e salva parte da 1h50 que o filme se propõe.
O final é tão insosso quanto o filme e bocejos me parecem garantidos. Blomkamp devia ter requentado a parceria com a esposa, Terri Tatchet, que o ajudou a escrever Distrito 9. Escrever e dirigir são coisas diferentes e, apesar de algumas almas iluminadas conseguirem transitar entre as duas esferas, não é, decididamente, para qualquer um.
A bem da verdade, com apenas dois filmes, não há como saber se Distrito 9 foi um tiro no escuro, se Terri Tatchet é realmente a alma por trás do bom roteiro do filme de estreia do maridão ou se Elysium foi apenas uma escorregadela. O que se sabe é que, aqui, Blomkamp errou tanto na escrita quanto na direção.
A dupla Terri e Blomkamp retorna no filme “Chappie”, ainda em pré-produção.
Aguardemos.
Recomendado para: quase ninguém. Quem gosta de FC, vai se irritar com o enredo. Quem gosta de ação, vai achar o filme monótono.
Blomkamp é amigo de Peter Jackson, o hobbit mais rico da história. O diretor de O Senhor dos Anéis resolveu investir na produção do filme do amigo, gastando perto de 30 milhões de dólares para lançar Distrito 9, considerado um dos melhores filmes do ano. Uma ficção científica de qualidade com um forte apelo social, Distrito 9 discute o apartheid de forma severa e sem escrúpulos. Não há espaço para metáforas aqui, o que vemos é a verdade nua e crua sobre a alegada superioridade de uma raça sobre a outra.
Copley retorna a parceria com o diretor Blomkamp em Elysium, mas no papel de coadjuvante. Afinal, o filme agora é patrocinado pela Sony e tem um orçamento 4 vezes maior. Era necessário um ator a altura e o papel coube a Matt Damon. Escolha infeliz, tanto quanto o resto. Há um certo endeusamento da comunidade cinéfila pelo papel do Diretor. Nas grandes premiações, o troféu de melhor diretor(a) só perde em prestígio para o de melhor filme. Tal fato não é completamente desprovido de fundamento. Afinal, o sujeito, além de sentar na cadeira principal e ser o único a gritar com todos, do cara que serve o cafezinho à estrela que ganha 20 milhões de estalecas para dizer duas falas, ele pode, se tiver talento, transformar uma grande história em um filme inesquecível. Ou fazer um filme decente de uma história boa. Mas não é capaz de fazer um filme bom de uma história ruim.
E este é o primeiro grande problema de Elysium. O roteiro tem mais furos do que um queijo suíço. E não estou falando daquele desligamento da realidade necessário para ver um filme de ficção científica ou fantasia. O roteiro é mal escrito, mesmo.
Elysium é uma estação espacial flutuante que mantém os ricos afastados de uma Terra semi-moribunda. Ninguém pode subir até lá sem autorização, mas naves ao estilo “coyotes” tentam alcançar Elysium, uma maravilha tecnológica cheia de robôs de combate que nunca aparecem quando são necessários. Wagner Moura, que interpreta Spider, invade o centro de comando de Elysium com dois mercenários. E os guardas robôs? Não sabemos. Eles não aparecem. Deveriam estar tomando chá de óleo. Ou discutindo a dialética de Kant.
O fio da meada está nas tais “camas de cura”, disponíveis somente em Elysium, que podem curar cidadãos (cidadãos são os sujeitos que têm uma identificação gravada na pele, mas que qualquer traficante de meia tigela pode lhe conseguir ) de qualquer coisa, inclusive reconstruir membros inteiros. Porque só está disponível para os ricos? Não sabemos. A tecnologia é cara? Aparentemente, não, pois qualquer casa tem uma cama dessas dando sopa. E, apesar de todos possuírem as camas, ainda há naves cheias de “camas de cura” prontas para partir. Partir para onde? E porque, se tem camas em tudo que é lugar? Mistérios, mistérios...
No final, parece que os ricos de Elysium só são sádicos. Ou ricos. Ou ambos.
E a questão só piora. Os diálogos são ruins e os personagens, mal construídos. Alice Braga interpreta uma enfermeira genérica que só está ali para mostrar a filha com câncer. Copley é um mercenário sádico que é convocado pela secretária de Defesa, Jodie Foster, sabe-se lá por que. Suas ações são imprevisíveis não porque ele é um sociopata. É porque a história não faz sentido, mesmo. Jodie Foster consegue iniciar bem, mas se perde no meio da maçaroca sem sentido da história. E Damon faz a pior atuação da sua vida; ele deve ter assinado antes de ler a bomba que tinha sido reservada por ele e sua interpretação deve ter arrancado lágrimas do cigano Igor.
O único que se salva é Wagner Moura, apesar do seu personagem não saber muito bem se é um revolucionário buscando igualdade ou um sujeito que simplesmente quer ganhar dinheiro à custa da miséria dos seus iguais. De qualquer forma, a sua atuação é convincente e salva parte da 1h50 que o filme se propõe.
O final é tão insosso quanto o filme e bocejos me parecem garantidos. Blomkamp devia ter requentado a parceria com a esposa, Terri Tatchet, que o ajudou a escrever Distrito 9. Escrever e dirigir são coisas diferentes e, apesar de algumas almas iluminadas conseguirem transitar entre as duas esferas, não é, decididamente, para qualquer um.
A bem da verdade, com apenas dois filmes, não há como saber se Distrito 9 foi um tiro no escuro, se Terri Tatchet é realmente a alma por trás do bom roteiro do filme de estreia do maridão ou se Elysium foi apenas uma escorregadela. O que se sabe é que, aqui, Blomkamp errou tanto na escrita quanto na direção.
A dupla Terri e Blomkamp retorna no filme “Chappie”, ainda em pré-produção.
Aguardemos.
Quanto vale:
Elysium
(Elysium)
Direção: Neill Blomkamp
Duração: 109 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Ficção Científica
A.Z.Cordenonsi
Pai, marido, escritor, professor universitário
Tem dois olhos divergentes e muito pouco tempo
página do autor - duncan garibaldi - facebook - twitter
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