O Grande Herói (2013)



Não vou mentir pra vocês.
Ver que um filme do Peter Berg, o mesmo acusado por “Hancock” (2008), e “Battleship: A Batalha dos Mares” (2012) estava concorrendo ao Oscar foi algo meio inacreditável.
Tá certo que existem categorias em que filmes fora dos “padrões de genialidade” da Academia se encaixam, mas mesmo assim, não deixa de ser merecedor de assistimento pra conferir se o cara faz algo pra merecer ser chamado de cineasta.



A historia de “Lone Survivor” (título original) , adaptada do livro homônimo escrito pelo Marcus Luttrell, começa com o protagonista interpretado pelo Mark Wahlberg, nesse longa-metragem baseado em fatos.
Ele interpreta o Marcus Luttrell, que em 2005 é designado pra liquidar o figurão do talibã Ahmad Shah (Yousuf Azami).
O acompanham na missão os também militares da marinha norte-americana Michael Murphy (Taylor Kitsch), Matt 'Axe' Axelson (Ben Foster), e Danny Dietz (Emile Hirsch), e ao menos o roteiro deixou algum espaço pra que os personagens conversassem sobre amenidades antes de ir pro combate. Algo pra apresentar os personagens e tentar que o público se importe um pouco se um deles for morto, ou algo assim.
São duas as sequências que marcam o início do filme.
Em uma, várias cenas de treinamento dos Seals são mostradas em filmagens reais.
E em outra, o personagem de Wahlberg é resgatado de uma missão.



Depois, a referida apresentação do quarteto de protagonistas, e do vilão, que é a epítome da maldade, na descrição apresentada pelo cineasta.
O talibã Ahmad Shah não é de falar. Ele desmembra gente.
Essa dicotomia maniqueísta é importante pro filme que o Peter Berg se propõe a filmar, afinal, essa é uma historia de sacrifício, honra, amizade, coragem, heroísmo, e fazer tudo pra acabar com a maldade.
Pareceu clichê?
Mas é mesmo.
Existe um momento apenas em que essa roupagem falsamente realista se desfaz.
É o único momento interessante do roteiro, em que uma discussão se inicia, sobre matar ou não alguém que poderia delatá-los aos soldados inimigos. O diálogo é bacana, e existe tensão no ar, afinal, aquela pode ser a burrada que ferra toda a missão.


A partir daí, então, os verdadeiros motivos de toda fala proferida até então são revelados.
Isso porque, obviamente, a missão tem que fugir do controle, e o que se segue é um embate de metragem infindável.

Os quatro protagonistas se entrincheiram pra tentar abater o máximo de oponentes, e vão indo bem, enquanto levam uns tiros esporádicos. Esses projeteis que os atingem, falando bom português, não servem pra nada.
É só pra parecer realista, mas seria muita ingenuidade acreditar que os seguidos ferimentos sofridos por eles seguem essa “proposta de realismo”, quando eles simplesmente continuam correndo e pulando e derrubando múltiplos inimigos.
Além dos tiros, existem os danos auto-infligidos, pois a equipe de Wahlberg mais de uma vez opta por tentar a sorte saltando de uma montanha, rolando e se arrebentando todos no processo, ganhando de imediato os retoques de maquiagem devidos, e feitos pra impressionar quem considerar chocante ver os hollywoodianos com o rosto carregado dos competentes efeitos de maquiagem.
Uma dessas cenas de salto, aliás, faz lembrar a trupe de Power Rangers, e só pra variar, faz os heróis mancarem um pouco.
Ainda assim, vale nota o excelente trabalho de dublês, que se não fosse pelas não-consequências dos ferimentos sofridos pelos personagens seriam parte de um entretenimento muito maior.
A verdade é que, sem nenhuma utilização do cérebro durante a sessão, e aceitando todo nonsense e linhas de roteiro canhestras, Lone Survivor pode agradar se as cenas de tiroteio forem tudo que você procura.



Pelo título original do filme, se imagina que o aspecto sacrificial seja algo importante, e é mesmo, só que muito mal desempenhado, com inclusive todo tipo de frase clichê aos moldes de “se eu morrer aqui, diga pra ela que eu a amo”.
Em determinado momento, quando a equipe se separa, e o personagem de Wahlberg fica em evidência, é a chance de o ator exercer o poder de atuação que lhe é típico.
Ele automaticamente entra em modo overacting, e extrapola qualquer padrão aceitável de atuação, com caretas, e expressões que ficariam muito bem em um filme de Jim Carrey.
É nessa parte do filme também que em um surto de pressa as coisas acontecem em velocidade quase cômica, o que funciona bem pra deixar mais evidentes as obviedades do roteiro.


Nada contra a história de superação do Marcus Luttrell, mas haveriam muitas formas de filmá-la, que não viriam acompanhadas das palavras “clichê”, “absurda”, ou “esquecível”
Em um filme que além dos 4 protagonistas tem ainda o nome do Eric Bana no elenco, apesar do esforço dos atores, é preciso reconhecer que o objetivo do longa-metragem enquanto narrativa é mostrar ferimentos e tentar emocionar a plateia por intermédio disso.
Pode até ser o tipo de cinema que muitos estão procurando, mas nem por isso é um bom filme.


Quanto vale:

O Grande Herói. Recomendado para: ver gente levando tiro e se atirando morro abaixo.

O Grande Herói
(Lone Survivor)
Direção: Peter Berg
Duração: 121 minutos
Ano de produção: 2013
Gênero: Ação/Guerra

Clica aqui se ainda tem interesse em ler a Crítica dos indicados ao Oscar 2014.

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