Não vou mentir pra
vocês.
Ver que um filme do Peter
Berg, o mesmo acusado por “Hancock” (2008), e
“Battleship: A Batalha dos Mares” (2012) estava
concorrendo ao Oscar foi algo meio inacreditável.
Tá certo que existem
categorias em que filmes fora dos “padrões de genialidade” da
Academia se encaixam, mas mesmo assim, não deixa de ser merecedor de
assistimento pra conferir se o cara faz algo pra merecer ser chamado
de cineasta.
A historia de “Lone
Survivor” (título original) , adaptada do livro homônimo escrito pelo
Marcus Luttrell, começa com o protagonista interpretado pelo
Mark Wahlberg, nesse longa-metragem baseado em fatos.
Ele interpreta o Marcus
Luttrell, que em 2005 é designado pra liquidar o figurão do
talibã Ahmad Shah (Yousuf Azami).
O acompanham na missão
os também militares da marinha norte-americana Michael Murphy
(Taylor Kitsch), Matt 'Axe' Axelson (Ben Foster),
e Danny Dietz (Emile Hirsch), e ao menos o roteiro
deixou algum espaço pra que os personagens conversassem sobre
amenidades antes de ir pro combate. Algo pra apresentar os
personagens e tentar que o público se importe um pouco se um deles
for morto, ou algo assim.
São duas as sequências
que marcam o início do filme.
Em uma, várias cenas de
treinamento dos Seals são mostradas em filmagens reais.
E em outra, o personagem
de Wahlberg é resgatado de uma missão.
Depois, a referida
apresentação do quarteto de protagonistas, e do vilão, que é a
epítome da maldade, na descrição apresentada pelo cineasta.
O talibã Ahmad Shah
não é de falar. Ele desmembra gente.
Essa dicotomia
maniqueísta é importante pro filme que o Peter Berg se
propõe a filmar, afinal, essa é uma historia de sacrifício, honra,
amizade, coragem, heroísmo, e fazer tudo pra acabar com a maldade.
Pareceu clichê?
Mas é mesmo.
Existe um momento apenas
em que essa roupagem falsamente realista se desfaz.
É o único momento interessante do roteiro, em que uma discussão se inicia, sobre matar ou não
alguém que poderia delatá-los aos soldados inimigos. O diálogo é
bacana, e existe tensão no ar, afinal, aquela pode ser a burrada que
ferra toda a missão.
A partir daí, então, os
verdadeiros motivos de toda fala proferida até então são
revelados.
Isso porque, obviamente,
a missão tem que fugir do controle, e o que se segue é um embate de
metragem infindável.
Os quatro protagonistas
se entrincheiram pra tentar abater o máximo de oponentes, e vão
indo bem, enquanto levam uns tiros esporádicos. Esses projeteis que
os atingem, falando bom português, não servem pra nada.
É só pra parecer
realista, mas seria muita ingenuidade acreditar que os seguidos
ferimentos sofridos por eles seguem essa “proposta de realismo”,
quando eles simplesmente continuam correndo e pulando e derrubando
múltiplos inimigos.
Além dos tiros, existem
os danos auto-infligidos, pois a equipe de Wahlberg mais de
uma vez opta por tentar a sorte saltando de uma montanha, rolando e
se arrebentando todos no processo, ganhando de imediato os retoques
de maquiagem devidos, e feitos pra impressionar quem considerar
chocante ver os hollywoodianos com o rosto carregado dos competentes
efeitos de maquiagem.
Uma dessas cenas de
salto, aliás, faz lembrar a trupe de Power Rangers, e só pra variar, faz os heróis mancarem um
pouco.
Ainda assim, vale nota o
excelente trabalho de dublês, que se não fosse pelas
não-consequências dos ferimentos sofridos pelos personagens seriam parte de um entretenimento muito maior.
A verdade é que, sem nenhuma utilização do cérebro durante a sessão, e aceitando todo nonsense e linhas de roteiro canhestras, Lone Survivor pode agradar se as cenas de tiroteio forem tudo que você procura.
Pelo título original do
filme, se imagina que o aspecto sacrificial seja algo importante, e é
mesmo, só que muito mal desempenhado, com inclusive todo tipo de
frase clichê aos moldes de “se eu morrer aqui, diga pra ela que eu
a amo”.
Em determinado momento,
quando a equipe se separa, e o personagem de Wahlberg
fica em evidência, é a chance de o ator exercer o poder
de atuação que lhe é típico.
Ele automaticamente entra
em modo overacting, e extrapola qualquer padrão aceitável de
atuação, com caretas, e expressões que ficariam muito bem em um
filme de Jim Carrey.
É nessa parte do filme
também que em um surto de pressa as coisas acontecem em velocidade
quase cômica, o que funciona bem pra deixar mais evidentes as
obviedades do roteiro.
Nada contra a história
de superação do Marcus Luttrell, mas haveriam muitas formas
de filmá-la, que não viriam acompanhadas das palavras “clichê”,
“absurda”, ou “esquecível”
Em um filme que além dos
4 protagonistas tem ainda o nome do Eric Bana no elenco,
apesar do esforço dos atores, é preciso reconhecer que o objetivo
do longa-metragem enquanto narrativa é mostrar ferimentos e tentar
emocionar a plateia por intermédio disso.
Pode até ser o tipo de
cinema que muitos estão procurando, mas nem por isso é um bom
filme.
Quanto vale:
O Grande Herói.
Recomendado para: ver gente levando tiro e se atirando morro abaixo.
O Grande Herói
(Lone Survivor)
Direção: Peter Berg
Duração: 121 minutos
Ano de produção:
2013
Gênero: Ação/Guerra
Clica aqui se ainda tem interesse em ler a Crítica dos indicados ao Oscar 2014.
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