Ex Machina (2015)



Do diretor Alex Garland, muita gente conhece os trabalhos que ele realiza, mas em geral poucos associam a ele.
Porque o roteirista colaborador do cineasta oscarizado Danny Boyle em alguns projetos foi roteirista neles, mas em seus trabalhos de roteiro e produção enfim tomou a decisão de assumir um projeto seu, agora na função de diretor.
Assim sendo, o roteirista de de "Extermínio" (meu filme de zumbis preferido), "Dredd" (um fôlego pro cinema de HQs, que infelizmente não foi bem nas bilheterias), e "Sunshine: Alerta Solar" (um sci-fi que não é nenhum clássico, mas tem suas várias qualidades) fez desse seu trabalho de estreia algo com personalidade, e que chama pra si a obrigação de ter no roteiro sua coluna dorsal.
O que é sempre bom, mas tem lá seus riscos.



A trama de "Ex Machina" segue o personagem Caleb (Doomhnall Gleeson), desde que ele descobre ter sido o contemplado em um sorteio realizado na empresa em que trabalha, e agora terá uma semana de convívio com seu chefe, o programador gênio e burlescamente rico Nathan (Oscar Isaac), o que vai ser direcionado pra uma pesquisa acerca de inteligência artificial que é o cerne da história.
O filme tem um reduzidíssimo número de atores no elenco, e por isso a escolha deles era ponto fundamental pro sucesso da empreitada, até porque a maior parte da trama é composta por diálogos em que as pessoas estão lá sentadas em um cenário estático, sem piruetas de edição, ou a urgência de uma cena de ação à espreita.
Até por isso a escolha do trio protagonista se mostra acertada.
Doomhnall Gleeson é um ator que eu já vi em produções ligadas direta ou indiretamente ao sci-fi ("Questão de Tempo", "Dredd", "Never Let Me Go", e um episódio de "Black Mirror"), e em "Ex Machina" não vai além do modo automático visto em alguns de seus trabalhos anteriores.
Bem melhor que ele está Oscar Isaac, um reconhecido ator que tem protagonizado produções complexas, tendo em "Inside Llewyn Davis: Balada de Um Homem Comum" um dos seus momentos mais destacados da carreira, mas promete ficar marcado pelo seu papel no novo Star Wars. Interpretando o misteriosoe manipulador Nathan, ele é uma força motriz do filme, que ganha suspense a cada fala proferida pelo cara, em uma atuação de camadas que tiram dele o papel de "vilão", tornando-o mais um oposto de Caleb. Ou quem sabe não. As intenções obscuras do personagem também são elemento diferencial e que aumenta a tensão nesse desenrolar.
Afinal: quem está sendo testado? A inteligência artificial, ou o próprio Caleb?



E fechando a trinca está Ava, a inteligência artificial que tem na atriz Alicia Vikander uma representação frágil e charmosa, mas que pode o tempo todo ser parte da dissimulação de Nathan, e isso é complemento pra que o andar da carruagem prenda a atenção do público, no decorrer das sessões de "entrevistas" que Caleb realiza com Ava. A personagem feminina é tão enigmática ou mais, do que o seu criador, e mais do que o roteiro, a interpretação dela apaga a tendência de um romance piegas se estabelecer entre eles.
Além do que, Ex Machina faz uso dos momentos de drama pra incrementar uma obra que tem os seus questionamentos existencialistas a favor de um enredo de suspense. É bom não se enganar, mesmo que várias vezes esse flerte com outros gêneros cinematográficos o faça menos rotulável.
Quase um encontro entre o sensacional filme "Ela" e o tal algum episódio da série "Black Mirror", com seus desdobramentos norteados pelas questões filosóficas que preenchem cada conversa dos personagens.


A primeira impressão, de um filme com poucos atores, seria de que os plot twists sustentariam a trama, porém eles ficam em último plano, até porque, ao utilizá-los no ato final, algum ou outro furo do roteiro se sobressaia.
Mas graças à condução precisa do diretor, e aos bem elaborados diálogos envolventes, são mais elogios do que poréns no fim do filme. Direção de fotografia e o requinte visual na claustrofóbica mansão de Nathan, design de som, e efeitos especiais apenas contribuem pra que a imersão ocorra naturalmente, e que a personagem Ava seja de fato interessante tal qual Nathan sonhava, e Caleb vive muitos de seus dilemas a partir disso.
A obra de Alex Garland se faz a partir desse triângulo de arestas moldáveis, sem grandes sobressaltos, mas com precisão de quem está criando vida nos personagens que escreve.


Quanto vale:


Ex Machina. Recomendado para: ser aquela ficção científica de qualidade, em que o CG é só complemento de cena.

Ex Machina
(Ex Machina)
Direção: Alex Garland
Duração: 108 minutos
Ano de produção: 2015
Gênero: Ficção Científica
Previous
Next Post »