Do diretor Alex
Garland, muita gente conhece os trabalhos que ele realiza, mas em
geral poucos associam a ele.
Porque o roteirista
colaborador do cineasta oscarizado Danny Boyle em alguns
projetos foi roteirista neles, mas em seus trabalhos de roteiro e
produção enfim tomou a decisão de assumir um projeto seu, agora na
função de diretor.
Assim sendo, o roteirista
de de "Extermínio" (meu filme de zumbis preferido),
"Dredd" (um fôlego pro cinema de HQs, que
infelizmente não foi bem nas bilheterias), e "Sunshine:
Alerta Solar" (um sci-fi que não é nenhum clássico, mas
tem suas várias qualidades) fez desse seu trabalho de estreia algo
com personalidade, e que chama pra si a obrigação de ter no roteiro
sua coluna dorsal.
O que é sempre bom, mas
tem lá seus riscos.
A trama de "Ex
Machina" segue o personagem Caleb (Doomhnall Gleeson),
desde que ele descobre ter sido o contemplado em um sorteio realizado
na empresa em que trabalha, e agora terá uma semana de convívio com
seu chefe, o programador gênio e burlescamente rico Nathan (Oscar
Isaac), o que vai ser direcionado pra uma pesquisa acerca de
inteligência artificial que é o cerne da história.
O filme tem um
reduzidíssimo número de atores no elenco, e por isso a escolha
deles era ponto fundamental pro sucesso da empreitada, até porque a
maior parte da trama é composta por diálogos em que as pessoas
estão lá sentadas em um cenário estático, sem piruetas de edição,
ou a urgência de uma cena de ação à espreita.
Até por isso a escolha
do trio protagonista se mostra acertada.
Doomhnall Gleeson é um
ator que eu já vi em produções ligadas direta ou indiretamente ao
sci-fi ("Questão de Tempo", "Dredd", "Never
Let Me Go", e um episódio de "Black Mirror"),
e em "Ex Machina" não vai além do modo automático
visto em alguns de seus trabalhos anteriores.
Bem melhor que ele está
Oscar Isaac, um reconhecido ator que tem protagonizado
produções complexas, tendo em "Inside Llewyn Davis: Balada de Um Homem Comum"
um dos seus momentos mais destacados da carreira, mas promete ficar
marcado pelo seu papel no novo Star Wars. Interpretando o
misteriosoe manipulador Nathan, ele é uma força motriz do
filme, que ganha suspense a cada fala proferida pelo cara, em uma
atuação de camadas que tiram dele o papel de "vilão",
tornando-o mais um oposto de Caleb. Ou quem sabe não. As
intenções obscuras do personagem também são elemento diferencial
e que aumenta a tensão nesse desenrolar.
Afinal: quem está sendo
testado? A inteligência artificial, ou o próprio Caleb?
E fechando a trinca está
Ava, a inteligência artificial que tem na atriz Alicia
Vikander uma representação frágil e charmosa, mas que pode o
tempo todo ser parte da dissimulação de Nathan, e isso é
complemento pra que o andar da carruagem prenda a atenção do
público, no decorrer das sessões de "entrevistas" que
Caleb realiza com Ava. A personagem feminina é tão
enigmática ou mais, do que o seu criador, e mais do que o roteiro, a
interpretação dela apaga a tendência de um romance piegas se
estabelecer entre eles.
Além do que, Ex
Machina faz uso dos momentos de drama pra incrementar uma obra
que tem os seus questionamentos existencialistas a favor de um enredo
de suspense. É bom não se enganar, mesmo que várias vezes esse
flerte com outros gêneros cinematográficos o faça menos rotulável.
Quase um encontro entre o
sensacional filme "Ela" e o tal algum episódio da
série "Black Mirror", com seus desdobramentos
norteados pelas questões filosóficas que preenchem cada conversa
dos personagens.
A primeira impressão, de
um filme com poucos atores, seria de que os plot twists sustentariam
a trama, porém eles ficam em último plano, até porque, ao
utilizá-los no ato final, algum ou outro furo do roteiro se
sobressaia.
Mas graças à condução
precisa do diretor, e aos bem elaborados diálogos envolventes, são
mais elogios do que poréns no fim do filme. Direção de fotografia
e o requinte visual na claustrofóbica mansão de Nathan, design de som, e efeitos especiais apenas
contribuem pra que a imersão ocorra naturalmente, e que a personagem
Ava seja de fato interessante tal qual Nathan sonhava,
e Caleb vive muitos de seus dilemas a partir disso.
A obra de Alex Garland
se faz a partir desse triângulo de arestas moldáveis, sem grandes
sobressaltos, mas com precisão de quem está criando vida nos
personagens que escreve.
Quanto vale:
Ex Machina.
Recomendado para: ser aquela ficção científica de qualidade, em
que o CG é só complemento de cena.
Ex Machina
(Ex Machina)
Direção: Alex
Garland
Duração: 108 minutos
Ano de produção:
2015
Gênero: Ficção
CientíficaSign up here with your email
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