Homem-Formiga (2015)



Surreal lembrar que tudo começou com o na época promissor mas ainda desacreditado “Homem de Ferro”, lá em 2008, e que aquela cena pós-crédito seria um pontapé inicial e formador de tendência a ponto de hoje estarmos no aguardo de uma Guerra Infinita dividida em dois filmes de proporções cósmicas.
E se pra DC/Warner basta anunciar um filme estrelado por seus mais famosos heróis pro hype ir pra estratosfera mesmo sem nenhum filme dessas encarnações deles que tenha prestado, pra Marvel isso foi construído exatamente no que a rival não tem mostrado a que veio.
Então, o “Capitão América: Guerra Civil” e seus personagens principais de pouco apelo frente ao público-médio antes do MCU é resultado de filmes que nem esse “Homem-Formiga”, os quais, mais do que faturarem individualmente, fortalecem o universo cinematográfico do estúdio, e são bala na agulha pra tenteadas muito mais ousadas.
Daí o porquê de um longa-metragem de humor que nem esse, de um herói que muito fã de HQs afirmaria servir apenas pra aparecer direto em um filme dos Vingadores, ter muito mais importância do que um risco isolado.



Mas convenhamos que depois de umas surpresas das mais inesperadamente positivas, que nem o “Guardiões da Galáxia” do James Gunn, ou o “Capitão América: Soldado Invernal” pelos Irmãos Russo, a incerteza quanto a algo que nem esse “Homem-Formiga” diminuiu por tabela, mesmo que o diretor seja o Peyton Reed, e o protagonista o Paul Rudd.
Na verdade, a escolha dos dois já se mostra muito compatível com a proposta de um filme de herói que bem longe de tentar ser épico, visa ser família e humorado.
Dessa forma, ainda que o longa-metragem possa decepcionar quem foi buscando um sombrio passo de preparação pra um épico desenrolar que a Marvel vem realizando debaixo dos panos, o tom de comédia é a única alternativa perfeitamente funcional tendo em vista diretor e ator.
Ao menos, “Homem-Formiga” é um filme que jamais tenta enganar o espectador.
Ele é o filme mais leve, dentre os oriundos das HQs da Marvel (mais até do que “Operação Big Hero”, eu diria), e desavergonhadamente explora isso até o tutano.
Contando com a dicotomia entre o ex-Homem-Formiga Hank Pym (Michael Douglas) e o candidato ao cargo, Scott Lang (Paul Rudd), e ainda a figura forte de Hope Van Dyne (Evangeline Lilly), o filme joga ainda com uma galeria de coadjuvantes típicos de comédias de verão que muitas vezes nos fazem esquecer que este se trata de um filme de super-heróis.
Um ponto que talvez direcione pra esse caminho é que Scott Lang não carrega nenhum grande trauma que o motive a combater o crime.
O ex-ladrão em reabilitação apenas quer ser um pai melhor pra filha que deixou quando foi pra prisão, e isso, claro, é uma motivação valiosa, porém nada nesse processo de transformação e guinada quanto ao seu caráter vai conferir grande peso ao drama familiar.
O cineasta narra seu roteiro somente preocupado em manter a leveza da trama, e não tornar seu vilão, Darren Cross (Corey Stoll) tão pastichento, enquanto faz o público simpatizar razoavelmente com o restante do elenco.
Falando em roteiro, ele é creditado a Joe Cornish, Adam McKay, Paul Rudd, e Edgar Wright, e isso lembra que por um bom tempo Edgar Wright (de Scott Pilgrim Contra o Mundo) esteve ligado ao projeto na função de diretor, e por incompatibilidade de ideias com a Marvel deixou o barco.
Impossível saber com certeza, mas vendo o filme entregue pelo seu substituto é de se imaginar que a aventura com humor que Wright realizaria teria muito mais do estilo característico do diretor. Mas aí já é divagação minha.




O que se sabe é que “Homem-Formiga” foi um tiro arriscado por retroceder a um ponto em que os filmes de super-heróis não eram pensados desde a prancheta já pra ser franquia.
Se funciona na forma de entretenimento efêmero é muito pelas referências, pelos efeitos especiais a serviço do enredo, e do elenco suficientemente segurando as pontas de suas contrapartes, além do ritmo narrativo de comédia em que praticamente não há momento pra respirar entre uma risada e outra.
Dessa forma, piada após outra somos levados de uma cena de ação a outra, e Paul Rudd, auxiliado por seus colegas de protagonismo, juntamente com Michael Peña, Judy Greer, Abby Rider, T.I., David Dastmalchian, Bobby Cannavale, e Wood Harris dita o tom de uma produção ideal pra levar os filhos no cinema.
Parece pouco, mas tem seu valor.
Tanto pro potencial de aplicação que a primeira cena pós-créditos deixa evidente, quanto pelo simples reconhecimento de que o cinema pode ser apenas isso, servindo a entretenimento despretensioso tal qual uma HQ desvinculada de alguma saga se desdobrando durante meses em crossovers sem fim.



Além dos quase $520 milhões arrecadados, o saldo positivo permite uma expansão do núcleo de personagens ligados ao Homem-Formiga, e sua inclusão nas aventuras de outros heróis da Casa das Ideias.
O único porém é que talvez o público fique acostumado com o algo mais que “Guardiões da Galáxia” e “Soldado Invernal” trouxeram em roteiro e estilo, e produções na linha desse lançamento de 2015 destoem da crescente de intensidade da Marvel nas telas, inclusive nas ótimas séries “Demolidor” e “Jessica Jones”. E isso sem querer exigir sempre tramas sombrias ou violentas.
O filme de origem foi realizado com êxito, e isso já é muita coisa, independente da abordagem escolhida.
O cuidado é mais pela aproximação perigosa de um patamar de despretensão que se passar um pouco vira filme pra equivaler aos lançados diretamente pra DVD.
A própria Marvel aumentou o nível de exigência, e tem que suar pra não começar a patinar no próprio jogo.



Quanto vale:



Homem-Formiga. Recomendado para: assistir um filme da Marvel com menores (trocadilho inevitável) expectativas.

Homem-Formiga
(Ant-Man)
Direção: Peyton Reed
Duração: 117 minutos
Ano de produção: 2015
Gênero: Aventura/Comédia

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