Surreal lembrar que tudo começou
com o na época promissor mas ainda desacreditado “Homem de Ferro”,
lá em 2008, e que aquela cena pós-crédito seria um pontapé
inicial e formador de tendência a ponto de hoje estarmos no aguardo
de uma Guerra Infinita dividida
em dois filmes de proporções cósmicas.
E se pra DC/Warner
basta anunciar um filme estrelado por seus mais famosos heróis pro
hype ir pra estratosfera mesmo sem nenhum filme dessas encarnações
deles que tenha prestado, pra Marvel isso
foi construído exatamente no que a rival não tem mostrado a que
veio.
Então, o “Capitão
América: Guerra Civil” e
seus personagens principais de pouco apelo frente ao público-médio
antes do MCU é
resultado de filmes que nem esse “Homem-Formiga”,
os quais, mais do que faturarem individualmente, fortalecem o
universo cinematográfico do estúdio, e são bala na agulha pra
tenteadas muito mais ousadas.
Daí o porquê de um longa-metragem
de humor que nem esse, de um herói que muito fã de HQs afirmaria
servir apenas pra aparecer direto em um filme dos Vingadores,
ter muito mais importância do que um risco isolado.
Mas convenhamos que depois de umas
surpresas das mais inesperadamente positivas, que nem o “Guardiões da Galáxia” do James
Gunn, ou o “Capitão América: Soldado Invernal” pelos
Irmãos Russo, a
incerteza quanto a algo que nem esse “Homem-Formiga”
diminuiu por tabela, mesmo que o diretor seja o Peyton
Reed, e o protagonista o Paul
Rudd.
Na verdade, a escolha dos dois já se mostra muito compatível com a
proposta de um filme de herói que bem longe de tentar ser épico,
visa ser família e humorado.
Dessa forma, ainda que o
longa-metragem possa decepcionar quem foi buscando um sombrio passo
de preparação pra um épico desenrolar que a Marvel vem
realizando debaixo dos panos, o tom de comédia é a única
alternativa perfeitamente funcional tendo em vista diretor e ator.
Ao menos, “Homem-Formiga”
é um filme que jamais tenta enganar o espectador.
Ele é o filme mais leve, dentre os
oriundos das HQs da Marvel
(mais até do que “Operação Big Hero”,
eu diria), e desavergonhadamente explora isso até o tutano.
Contando com a dicotomia entre o
ex-Homem-Formiga Hank Pym (Michael Douglas)
e o candidato ao cargo, Scott Lang (Paul Rudd),
e ainda a figura forte de Hope Van Dyne (Evangeline Lilly),
o filme joga ainda com uma galeria de coadjuvantes típicos de
comédias de verão que muitas vezes nos fazem esquecer que este se
trata de um filme de super-heróis.
Um ponto que talvez direcione pra
esse caminho é que Scott Lang
não carrega nenhum grande trauma que o motive a combater o crime.
O ex-ladrão em reabilitação apenas quer ser um pai melhor pra
filha que deixou quando foi pra prisão, e isso, claro, é uma
motivação valiosa, porém nada nesse processo de transformação e
guinada quanto ao seu caráter vai conferir grande peso ao drama
familiar.
O cineasta narra seu roteiro
somente preocupado em manter a leveza da trama, e não tornar seu
vilão, Darren Cross
(Corey Stoll) tão
pastichento, enquanto faz o público simpatizar razoavelmente com o
restante do elenco.
Falando em roteiro, ele é
creditado a Joe Cornish, Adam McKay, Paul Rudd, e Edgar Wright, e isso lembra que por um bom tempo Edgar Wright (de
Scott Pilgrim Contra o Mundo)
esteve ligado ao projeto na função de diretor, e por
incompatibilidade de ideias com a Marvel
deixou o barco.
Impossível saber com certeza, mas
vendo o filme entregue pelo seu substituto é de se imaginar que a
aventura com humor que Wright
realizaria teria muito mais do estilo característico do diretor. Mas
aí já é divagação minha.
O que se sabe é que
“Homem-Formiga”
foi um tiro arriscado por retroceder a um ponto em que os filmes de
super-heróis não eram pensados desde a prancheta já pra ser
franquia.
Se funciona na forma de entretenimento efêmero é muito pelas
referências, pelos efeitos especiais a serviço do enredo, e do
elenco suficientemente segurando as pontas de suas contrapartes, além
do ritmo narrativo de comédia em que praticamente não há momento
pra respirar entre uma risada e outra.
Dessa forma, piada após outra
somos levados de uma cena de ação a outra, e Paul Rudd,
auxiliado por seus colegas de protagonismo, juntamente com Michael
Peña, Judy Greer, Abby Rider, T.I., David Dastmalchian, Bobby
Cannavale, e Wood
Harris dita o tom de uma
produção ideal pra levar os filhos no cinema.
Parece pouco, mas tem seu valor.
Tanto pro potencial de aplicação que a primeira cena pós-créditos
deixa evidente, quanto pelo simples reconhecimento de que o cinema
pode ser apenas isso, servindo a entretenimento despretensioso tal
qual uma HQ desvinculada de alguma saga se desdobrando durante meses
em crossovers sem fim.
Além dos quase $520 milhões
arrecadados, o saldo positivo permite uma expansão do núcleo de
personagens ligados ao Homem-Formiga,
e sua inclusão nas aventuras de outros heróis da Casa das Ideias.
O único porém é que talvez o
público fique acostumado com o algo mais que “Guardiões
da Galáxia” e “Soldado
Invernal” trouxeram em
roteiro e estilo, e produções na linha desse lançamento de 2015
destoem da crescente de intensidade da Marvel
nas telas, inclusive nas ótimas séries “Demolidor”
e “Jessica Jones”.
E isso sem querer exigir sempre tramas sombrias ou violentas.
O filme de origem foi realizado com êxito, e isso já é muita coisa, independente da abordagem escolhida.
O filme de origem foi realizado com êxito, e isso já é muita coisa, independente da abordagem escolhida.
O cuidado é mais pela aproximação
perigosa de um patamar de despretensão que se passar um pouco vira
filme pra equivaler aos lançados diretamente pra DVD.
A própria Marvel aumentou o nível de exigência, e tem que
suar pra não começar a patinar no próprio jogo.
Homem-Formiga. Recomendado para: assistir um filme da Marvel com menores (trocadilho inevitável) expectativas.
Homem-Formiga
(Ant-Man)
Direção: Peyton Reed
Duração: 117 minutos
Ano de produção: 2015
Gênero: Aventura/Comédia
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