Shaun: O Carneiro (2015) - Satélite Vertebral

O Aardman Animations já está na jogada faz um bom tempo e ajudando a manter em evidência uma técnica de animação que outrora era elemento fundamental em talvez 10 a cada 10 filmes de ficção científica, terror, espada e magia, etc.

Na atualidade do CG reinante o espaço é menor pra conferir um stop-motion em ação, mas ainda há cineastas obstinados e apaixonados pela técnica, tais quais o Tim Burton ("A Noiva Cadáver", "Frankenweenie") e Wes Anderson ("O Fantástico Senhor Raposo", "O Grande Hotel Budapeste").

O Aardman, por sua vez, tem realizado seus experimentos em stop-motion com ampla exposição na mídia global desde "A Fuga das Galinhas" (2000) e desde então trouxe "Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais", e "Por Água Abaixo".

O resultado oscilou, mas a relevância do trabalho se manteve.

Entre uma tentativa e outra, uma indicação ao Oscar eleva o interesse pela "animação de bonecos de massinha" fazendo muita gente assistir por curiosidade, pra completar a lista de filmes assistidos do Oscar, ou só pra parecer cult, mesmo.

"Shaun: O Carneiro", nova produção do estúdio, possui uma aproximação maior dos trabalhos mais antigos dos caras, principalmente por seus personagens terem nascido em um dos curta-metragens de "Wallace e Gromit", e pelo fato de conduzir a história através de personagens que não falam (ou ao menos não falam um dialeto compreensível pelo espectador).

A trama, tal qual muito do que se viu nos trabalhos anteriores do estúdio, não vem recheada de questionamentos metafísicos, e complexas análises do comportamento humano. O rebanho e os personagens à sua volta já possuíam uma série pra chamar de sua, na qual 3 temporadas serviram pra consolidar um estilo particular.

De modo geral, são conceitos de amizade e família o que vem agregado à aventura infantil censura livre que o estúdio apresenta.

Pros diretores Mark Burton, e Richard Starzak isso é mais que suficiente pra contar o enredo que envolve as peripécias dos vários protagonistas, que apesar de na apresentação inicial ter mencionados o carneiro Shaun, o cão Bitzer, e o Fazendeiro, também inclui um rebanho de amigos do personagem-título que vai pra tudo que é canto distribuindo desordem.

O filme, se em um primeiro momento parece muito com "A Fuga das Galinhas" (apesar de a sequência inicial ser muito legal), parte pra outra direção a partir de uma cagada idealizada pelo Shaun, e que leva a distribuição de caos até uma área urbana, onde o algoz típico, o cara da carrocinha, vai obrigar todos a pôr em prática suas habilidades furtivas.

As consequências disso e de outras situações forçam todos a protagonizar cenas ridículas e, devido ao talento dos realizadores do longa-metragem, na medida pra um humor leve e descompromissado, que deve agradar mais às crianças, ainda que aos adultos haja também motivos pra curtir uma sessão de cinema sem maiores pretensões.

"Shaun: O Carneiro" não tem realmente o objetivo de embarcar no padrão da Pixar, de filmes pra crianças que na ótica dos adultos parecem ainda mais grandiloquentes, conforme foi em várias das produções memoráveis do estúdio da lampadinha, tais quais "Toy Story 3", "Up: Altas Aventuras" e "Divertida Mente".

Apesar de não tão envolvente quanto "A Fuga das Galinhas" (mas ainda anos-luz a frente de algo que nem o bagunçado "Piratas Pirados") "Shaun: O Carneiro" diverte com seu estilo minucioso e momentos que deixam claro que há muito "coração" na obra por parte dos envolvidos.

Prova disso são as sequências do restaurante, e principalmente o número musical pós-fita K7, devidamente inserido no contexto sem querer mimetizar o estilo de musicais Disney, ou algo assim.

Ainda que pudesse ser algo verdadeiramente emocionante com um desenvolvimento maior de seus personagens principais, e umas linhas a mais expondo motivações (mantendo a ausência de falas) e outros elementos que acabaram preteridos em prol do aspecto aventuresco, "Shaun: O Carneiro" é efetivo enquanto tresloucada e dinâmica história de resgate, em que o bom-humor visando gargalhadas é o elo de ligação com seus simpáticos e atrapalhados personagens.

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