Fechando o caixa de cada temporada de cinema comercial, do qual tem
trocentos sites listando faturamentos, e etcs, a lista infame de
produções que não forem capazes nem de ao menos se pagar vem
recheada de diretores que não se esperava errassem tão feio a mão
na arte de criar hype (e consequentemente $).
Esta prequela do Peter Pan do qual toda criança já viu nem
que seja uma história fragmentada, lamentavelmente pros envolvidos,
é parte dessa lista, mas vale lembrar que bilheteria não é
qualidade do todo, afinal, na lista de mais altas arrecadações de
todos os tempos estão "Avatar", "Transformers", e "Velozes e
Furiosos".
Resta a Peter Pan ser uma sessão de cinema da qual o
espectador saia falando do quão subestimado ele foi, ou algo assim.
O diretor Joe Whright não é familiar a esse mundo dos
blockbusters pirotécnicos.
Ele fez nome com dramas intensos, de amores idem, e por isso é mais
difícil associar o rótulo de filme pipocão a um trabalho dele,
mesmo que o orçamento inchado, e toda a divulgação insistam em
dizer que Pan segue esse caminho.
Mas é fato que ele tem buscado algo diferente do que apresentou em
“Orgulho e Preconceito”, e “Desejo e Reparação”,
flertando com elementos vistos neles em suas tenteadas por outras
vertentes.
Mesmo “Anna Karenina”, que poderia significar um regresso
aos seus trabalhos mais famosos e relevantes, destoa desses
longa-metragens, e se mostra bem mais pasteurizado e ameno.
A proposta de “Peter Pan”, conforme evidente desde seus
minutos iniciais, está bem alinhavada com o monte de tentativas de
ser blockbuster de fantasia pra toda família.
Lembra bastante “As Crônicas de Nárnia”, pra falar a
verdade.
No entanto, mesmo que um pouco divertido, falta aquele peso dramático
espreitando, indicando haver algo realmente decisivo pra acontecer, e
que vai transformar os personagens ao longo do enredo.
A lida de orfanato do eternamente jovem Peter (Levi Miller) e
seu amigo Nibs (Lewis MacDougall) parece apenas isso. Nos
confrontamentos da dupla com os algozes maniqueistas personificados
pelas freiras que administram o local, as piadas, tom aventuresco, e
mesmo o drama da mãe perdida, parecem funcionar apenas pro que está
acontecendo, e não pra algo maior.
O que resta quando o cenário muda adquirindo toneladas de CG, é que
sabemos que o protagonista é alguém audacioso o bastante pra
desafiar o sistema. Porém, aí a direção de Joe Whright já
começa a deixar as coisas confusas.
Daí pra frente, Peter se torna vítima passiva da disputa entre o
pirata Barba Negra (um dificilmente reconhecível Hugh
Jackman) e a tribo rebelde que tem na figura de Tiger Lily
(Rooney Mara) sua mais destacada integrante (ao menos pro que o
roteiro tem guardado).
São raros os momentos em que o futuro líder dos garotos perdidos
sobrepuja a caracterização de personagem de apoio, ainda que a
alcunha de “O Escolhido” o acompanhe a partir de certa etapa do
filme.
De todo modo, parece que o enfoque da produção nele está mais no
título do que no desenrolar, que se preocupa muito mais em
apresentar um princípio de amizade entre Peter
e James Hook (Garret Hedlund), o que poderia até
funcionar não fossem os diálogos fracos que apenas não constrangem
mais que a atuação empolada de Hedlund.
Não bastasse isso, além dos vivível esforço de Levi Miller,
e da competência conhecida de Hugh Jackman, ninguém mais no
elenco é capaz de justificar ser chamado de algo mais que figurante,
mas estando em papéis de importância pra trama, Hedlund, Rooney
Mara, Adeel Akhtar (o lendário Wilson Wilson da lendária
série “Utopia”), Nonso Anozie, e Amanda
Seyfried só contribuem pra um rápido desinteresse pela Terra do
Nunca de trejeitos circenses, e pro conflito que não vem com aquele
mínimo indício de ameaça que esclareceria porque era preciso
contar essa história de origem de amizades e rivalidades, invés de
ir direto pra história popularizada em outras versões.
Fosse dirigido trazendo uma porção a mais de elementos básicos de
interesse pra plateia, “Peter Pan” poderia até ser
novamente a história já contada outras vezes, com menor orçamento,
e menos firulas, que não seria além de um dos maiores fracassos de
bilheteria do ano, um dos filmes mais irrelevantes totalmente
desnecessários pra cinefilia de qualquer um.
No caso do filme de Joe Whright, os míseros menos de $35
milhões arrecadados na bilheteria doméstica (diante de um custo de
$150 milhões) são fruto além do baixo hype, de uma aventura
insossa na qual roteiro, elenco e direção não contribuem pra que
alguém se importe com o destino dos seus personagens.
Não precisava ser assim, ainda mais em um filme no qual os cantos
piratas incluem músicas do Nirvana
e Ramones no repertório, mas ao menos vale de lembrete
de algo que Michael Bay é resistência pra tentar contrariar:
CG não salva filme.
Quanto vale:
Peter
Pan. Recomendado para: a terra do esquecimento do cinema.
Peter
Pan
(Pan)
Direção:
Joe Whright
Duração:
111 minutos
Ano
de produção: 2015
Gênero:
Aventura/Fantasia
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