Whisper of the Heart (1995)





Um desses equívocos pela superexposição da mídia é acabar restringindo o trabalho de alguém a coisas parecidas com seus trabalhos mais populares.
Bastante comum pra todo mundo da indústria, isso tentou tornar Jim Carrey escravo das comédias, Tom Cruise, refém das missões impossíveis, e Jackie Chan um eterno kickboxer tresloucado.
Todos eles tiveram suas investidas em outras direções, de sucesso ou não, mas provando que um artista não é restrito ao que se sabe dele por quem acompanha por alto o que a sétima arte reserva pra temporada seguinte.
Quem sabe por isso que a tão vasta e diversa gama de produções do Estúdio Ghibli acaba pra muita gente sendo ainda rotulada de “filmes tipo Chihiro”.
Nessa revisita dos longa-metragens do estúdio (e do clipe massa do Chage & Aska, animado pelo Ghibli), essa diversidade de temas e possibilidades se faz tão interessante em um épico repleto de elementos de universos fantásticos, quando em dramas humanos de pés fincados em ambientes urbanos, e de frias paisagens repletas de arranha-céus japoneses.





Em mais uma parte desse Especial Estúdio Ghibli, o filme reassistido transmite o que o roteiro quer transmitir sem ir muito longe da realidade de cidade grande que muitos conhecem e vivem, e investe em dilemas não transportados pra mundos de animais falantes, ou seres indescritíveis.
Whisper of the Heart”, adaptado do mangá de autoria da Aoi Hiiragi um drama escolar que fala sobre arte, amizade, amadurecimento, autoconhecimento, e outras paradas que fazem parte do ir se tornando adulto sem perder sua essência, e sem encontrar um dia no emprego, carro, e demais realizações idealizadas a frustração mascarada que assola tanta gente.
Na história do filme dirigido pelo Yoshifumi Kondô, a jovem Shizuku Tsukishima (dublada pela Youko Honna) se vê inserida nesse momento de dilema de carreira, universidade, e relacionamentos, sabendo que não sabe nada do que pretende ser.
E nada, incluindo pais, irmã, amigos, ou os infinitos livros lidos na biblioteca, parecem ter alguma dica útil pra passar por isso sem as dores de cabeça de não saber exatamente em que a decisão vai resultar.
No meio do desconcertante entendimento de ainda não estar ligada no que deve fazer, um nome presente nos livros que ela costuma ler leva ela a conhece o personagem Seiji (dublado pelo Issei Takahashi), e por mais que pareça, a conturbada fase pode ao menos estar rumando pra novos aprendizados, ainda que talvez não a certezas sobre o futuro.







Enquanto filme, “Whisper of the Heart” conta com recursos bem convencionais.
O roteiro de poucas reviravoltas e diálogos simples e funcionais, os personagens municiados de personalidades comuns, e um contexto de situações corriqueiras.
O que o longa-metragem possui de diferente é uma vibe acertada que não força o melodrama, e fica na linha tênue de separação entre o drama efetivo e o que seria um tom excessivo de emoção, sempre com o cuidado de não escorregar pra um lado ou outro.
O diretor dosa elementos pra que, mesmo não sendo o mais indicado pra quem rejeita qualquer sinopse que contenha as palavras “relacionamento” ou “romance”, ainda seja um filme competente e eficaz.
A competência da animação garante também que os aspectos visuais não se sobressaiam ao todo, pra ninguém sair dizendo que “aquela cena valeu mais que o filme inteiro”.
É algo pra ser encarado como live-action, em que nada tenta ganhar apreciação da plateia pelo exagero, mas sim pela integração das partes que o compõem enquanto obra audiovisual.




Claro que em sua simplicidade, o filme de Yoshifumi Kondô poderia muito atribuir maior significado aos simbolismos presentes no dia-a-dia, sem ser tão literal o tempo todo, e enquanto trama lidando com descobertas, e um emaranhado de transformações na vida de seus personagens, transcender em narrativa o que ainda é uma bonita história.
Whisper of the Heart”, de aparente mais fácil comparação com um filme do tipo de “Ocean Waves”, não parece se relacionar com obras que nem “Princesa Mononoke”, “Nausicaã”, “O Conto da Princesa Kaguya”, ou o próprio “A Viagem de Chihiro”, porém, não apenas por ter uma espécie de continuação no filme de temática fantástica “O Reino dos Gatos”, é um trabalho que reflete um caráter de sensibilidade e maturidade que é forte característica do estúdio.
É quase como se o próprio mundo real fosse apenas um dos mundos paralelos pelos quais o Ghibli passei há décadas, na busca incessante por histórias que versam a respeito da vida, na sua banalidade fantástica, ou na sua fantástica forma cotidiana de ser.


Quanto vale:


Whisper of the Heart. Recomendado para: conduzir o espectador em mais uma das bem narradas histórias de descoberta e aprendizado criadas pelo estúdio Ghibli.

Whisper of the Heart
(Mimi Wo Sumaseba)
Direção: Yoshifumi Kondô
Duração: 111 minutos
Ano de produção: 1995
Gênero: Drama

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