Sêo Canini (1936-2013)


Nascido em Paraí - RS, filho de pai farmacêutico e desenhista nas horas vagas, e com duas irmãs, Renato Canini riscava os primeiros traços desde sempre que pôde. 
Mesmo com a morte do pai na época em que tinha uns 10 anos, e tendo perambulado pela casa de parentes e internatos, a influência paterna permaneceu, e o guri arteiro se tornou um dos maiores quadrinhistas brasileiros de todos os tempos, tendo seu momento mais marcante nos 6 anos em que desenhou as HQs do Zé Carioca para a Walt Disney.
Hoje a arte de Canini fica de legado do artista que faleceu na noite desta quarta-feira, 30 de outubro, aos 77 anos.

Foto: Nauro Júnior / Agencia RBS
De acordo com o próprio Canini, ele recebia recorrentes críticas dos editores de Walt Disney por buscar abrasileirar o personagem idealizado brasileiro, Zé Carioca. A inclusão de favelas, e personagens com biotipo mais próximo do nosso cotidiano pode ter gerado estranhamento pros estadunidenses, mas era o que a publicação precisava.
Curiosamente, o chamado "Pai do Zé Carioca" considerava que a melhor versão do personagem era a americana, mesmo.
De um estilo tão ímpar, era difícil lidar com a padronização de traço imposta pela Disney, mas ainda assim, a marca deixada por ele é fundamental pra trajetória do personagem.


Sendo evangélico, Canini trabalhou com ilustrações bíblicas por um tempo, além de ter criado o personagem Dr. Fraud em decorrência de sua crença.
Também teve trabalhos publicados nas revistas Pasquim, Pancada, Mad, e Recreio, além de ser lembrado pela criação do Zé Candango, Kactus Kid, o indio Tibica, além do próprio Dr. Fraud.


Eleito o primeiro Mestre Disney brasileiro, também conquistou o Prêmio HQMIX, e o Angelo Agostini, e foi homenageado em várias ocasiões (foi até mesmo tese de mestrado do grande ilustrador Guazzelli), sendo que a última homenagem de que me recordo (se estiver errado, por favor me corrijam) foi em Santa Maria - RS, no 9º Encontro de Cartunistas Gauchos - Cartucho, de 2012, ocasião na qual Canini não pôde se fazer presente  devido à internação hospitalar de seu amigo de longa data Luís Fernando Veríssimo, dois dias antes.
Meses antes eu havia ganhado de presente o seu mais recente livro, "Pago pra Ver", e aguardava a oportunidade de vê-lo autografado por ele. O livro foi algo tão impressionante pra mim, que além de ele ter espaço garantido na lista de melhores HQs que eu li naquele ano, virou livro de cabeceira, servindo de referência recorrente pro meu cartunismo.


Infelizmente não conheci ele pessoalmente no evento, mas de certo modo, outra marca de Canini se fez clara ao público com sua justificada ausência.
Esse espírito solidário dele é uma característica onipresente em relatos de quem o conheceu, e ainda que ele não tenha comparecido pra receber mais essa merecida aclamação por sua brilhante e inspiradora carreira, de uma maneira particular Canini mais uma vez falava muito sobre quem ele era, mesmo não estando lá.

Vá com Deus, Canini.


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