JB.
Jack Bauer. Jason Bourne. James
Bond.
A associação é bem simples, e denota
uma tendência que vai além do universo dos agentes especiais
dispostos a passar dos limites pra cumprir suas missões.
Porque hoje em dia, a moda é ser
sombrio e violento na cultura pop.
A retomada da franquia adaptando a obra
de Ian Fleming não esteve imune a isso, e desde Casino
Royale (2006) que o agente do MI6 se acostumou a lutar com menos
requinte, e carregar mais cicatrizes do que é rotineiro a um bom
gentlemen a serviço da Rainha.
Assim, depois de Quantum Of Solace
(2008), mais um episódio da cinessérie ganharia as telas dessa vez
dirigido pelo oscarizado Sam Mendes.
Tá certo que o começo é só mais um
do 007.
Uma perseguição em que o James
Bond interpretado pelo Daniel Craig vai adiante a la
Terminator sem tomar conhecimento de nada, e sem ligar se vai levar
tiro, pontapé, ou faconaço.
Claro que isso funcionou nos filmes
anteriores, mas outra perseguição similar não seria bem um modo de
destacar a longeva franquia dentre tantas outras que proliferam tal
qual zumbis em um seminário de neuro-cirurgiões.
Felizmente, a correta sequência
inicial logo é esquecida quando uma videoclíptica sequência de
créditos iniciais surge na tela.
Daí por diante, o filme muda
drasticamente, a ponto de não parece um filme de James Bond.
O James Bond em si é a mesma coisa,
com Daniel Craig investindo na nobre arte da carranca.
Porém, o viés aqui é bem mais
pessoal, e várias cenas de ação do filme, inclusive, tendem a ser menos convencionais do
que nos acostumamos nas produções do agente inglês.
Sam Mendes, afinal, é um
diretor diferenciado. Tanto Beleza Americana,
quanto Estrada para Perdição, Soldado Anônimo, etc,
possuem características que o diretor trouxe pra um tipo de cinema
que transita no mainstream, sem se subjugar por completo às suas
regras.
Em Skyfall, por sinal, são vários os momentos em
que isso se destaca.
Menciono especialmente o diálogo com o
agente Q, e a incursão no prédio em Xangai.
Tamanha sutileza não tem nada dessa
nova versão do agente, mas é algo que agrega algo novo e
interessante.
Além disso, é claro, um vilão competente é
fundamental, e Javier Bardem torna o nêmesis um personagem
icônico em sua excentricidade afundada até os cabelos descoloridos
em afetação.
Ainda assim, lidar com um projeto que teria que ter
na ação um ponto alto faz com que o filme mude bruscamente,
exatamente quando a tramóia que traz à memória os planos do
Coringa de Heath
Ledger estava aumentando a tensão da trama.
Por razões que é
de se imaginar, a vilania inteligente do personagem de Bardem
torna-se mais física e simples após alguns bons momentos de
embates verbais, outros vários diálogos brincando
com a própria mitologia e canastrice do protagonista em suas várias
versões no cinema, e a criatividade da ação, que desaparecem pra
que entrem em cena o batido embate final cheio de capangas pra morrer
e frases de efeito em meio a explosões aos moldes das proferidas pelo elenco de
Mercenários.
Claro que os significados e ideias conferem algum diferencial pra uma boa etapa do
filme, que acaba em segundo plano quando o propósito final da trama
vai rumo ao blockbuster padrão.
De todo modo, 007: Operação
Skyfall demonstra interesse em não ser mais um dos tantos filmes de ação truculenta que perambulam em busca de atenção pelas salas de
cinema.
Sam Mendes, sempre que pôde,
nessa sua participação deixou sua marca na franquia cinquentenária,
revelando que James Bond pode ser mais do que pancadaria bem
coreografada, ainda que no somatório, dessa vez tenha sido muito
disso.
Quanto vale:
007: Skyfall
(Skyfall)
Direção: Sam Mendes
Duração: 143 minutos
Ano de produção: 2012
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