Dica de leitura: Contra o Dia


Apesar do humor cáustico e esperto, ler os livros do Thomas Pynchon não é uma tarefa das mais fáceis. Tal dificuldade não vem apenas do fato de que as obras desse escritor norte-americano são tijolaços que facilmente ultrapassam as novecentas páginas (isso, para a atual geração habituada a ler parágrafos com basicamente 140 caracteres deve ser mesmo um pesadelo), mas também pelo labirinto narrativo que ele monta as suas histórias.

Pynchon cria tramas paralelas, mistura nelas elementos de ficção científica, psicologia, cinema, jazz, física quântica e cultura pop. Além disso, o autor ainda acrescenta nesses enredos uma quantia de personagens capaz de causar inveja em qualquer lista telefônica.

A preocupação central de Pynchon, mais do que contar uma história em linha reta, é tecer um emaranhado de elementos que refletem esse caos que os entendidos chamam carinhosamente de “pós-modernidade”.

Thomas Pynchon, é você?

Se poucos lêem Thomas Pynchon, ninguém então consegue ver ele, já que é mais fácil descobrir uma padaria em uma das luas de Saturno do que encontrar esse cara na rua. Visto que Pynchon, nascido no dia 8 de maio de 1937, vive em uma reclusão monástica, alheio a entrevistas e a qualquer tipo de badalação. As únicas imagens públicas dele são antigas e podem muito bem ser falsas.

Diante de tudo isso, das tramas malucas, do excesso de personagens, da ausência de um fio narrativo e da capacidade de colocar em um mesmo parágrafo parapsicologia e rock and roll, pergunto: vocês acham que eu iria ler esse tipo de coisa?
Mas é óbvio que SIM!! Quanto mais causar estranhamento, para mim é mais interessante.

Para eu mergulhar no universo de Thomas Pynchon, encarei o Contra o dia, livro lançado em 2006 e publicado em 2012 aqui no Brasil pela Companhia das Letras.
Na trama central, ou melhor, nas quatro tramas centrais, Pynchon aborda temas que vão da espionagem à matemática, passando até pelo faroeste.


Na sinopse de Contra o dia, um dos principais núcleos narrativos é a rivalidade entre duas poderosas famílias. No encalço do chefão Scarsdale Vibe, responsável pelo assassinato do patriarca Webb Traverse, surgem balonistas de uma grupo chamado Amigos do Acaso, aparecem também detetives com poderes paranormais, cientistas, músicos e algumas celebridades. Entre as celebridades estão o ator húngaro Béla Lugosi, que em 1931 viveu o conde Drácula no filme de Tod Browning, e o comediante norte-americano Groucho Marx.

Até mesmo há um personagem chamado Pádjitnov, que é obcecado por arremessar blocos compostos de fragmentos de quatro tijolos. Ou seja, uma evidente referência ao russo Alexey Pajitnov, um dos criadores do popular jogo Tetris.


Além disso, são contempladas no romance observações acerca da luz e as descobertas científicas ligadas à eletricidade, mas sempre com diálogos ágeis e cômicos.
O livro Contra o dia, para quem tem coragem de encarar 1.088 páginas que colocam em um mesmo caldeirão referências de todo tipo, é uma leitura recomendadíssima.

Outras obras do autor são: V (1963), O Leilão do Lote 49 (1966), O Arco-Íris da Gravidade (1973), Slow Learner (1984), Vineland (1990), Mason & Dixon (1997), Contra o Dia (2006) e Vício Inerente (2009).


Thomas Pynchon pode até não ser visto publicamente, mas já conseguiu a façanha de ser elogiado pelo ilustríssimo Harold Bloom, o mestre absoluto dos críticos chatos e ranhetas.
Até uma homenagem dos Simpsons esse recluso autor recebeu.

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