Nêmesis, de Mark Millar

Mark Millar é um caso engraçado. Geralmente os grandes autores dos quadrinhos realizam seus melhores trabalhos em minisséries e outros trabalhos autorais, não perdendo uma chance de reclamar dos prazos e amarras das grandes editoras. Garth Ennis teve uma fase ótima no Justiceiro, mas sua obra máxima é Preacher, pela Vertigo. Warren Ellis escreveu o arco Extremis do Homem de Ferro e outros trabalhos para a Marvel, mas foi em Transmetropolitan e Planetary que brilhou. Existem outros inúmeros exemplos, e também algumas exceções. Mark Millar é uma delas.

Não dá para negar sua competência narrativa. Ele foi simplesmente o responsável pelos dois primeiros volumes de Supremos, que são absolutamente fantásticos. Também escreveu a melhor saga da década passada, a Guerra Civil da Marvel. O problema é quando ele resolveu fazer séries autorais. Nêmesis, assim como Procurado e Kick Ass, está muito abaixo dos seus trabalhos anteriores.


Não, não faz, seu maldito mentiroso
A premissa da história lançada recentemente pela Panini em forma de encadernado é simples. Um milionário conhecido apenas como Nêmesis passa seus dias causando destruição em países asiáticos e assassinando os chefes de polícia. Então resolve partir para os Estados Unidos, mais precisamente em Washington, para enfrentar o chefe de polícia Blake Morrow, um cidadão exemplar, honesto e extremamente eficiente. Para chamar a atenção, Nêmesis sequestra o presidente dos EUA em um avião, numa cena mais forçada que a inicial do Bane no último filme no Batman.

E esse é o mair defeito da minissérie. Claramente Millar um dia pensou algo parecido com "imagina que foda seria se o Batman fosse o Coringa e enfrentasse o comissário Gordon". O problema é que não passa disso. Não há uma história para ser contada, apenas cena de ação atrás de cena de ação, com forçações de barra gigantescas, como na cena da prisão e na luta final. Essa talvez seja a maior diferença para Kick Ass. Enquanto era divertido ver um nerd se fuder na sua tentativa de virar um super-herói, o roteiro de Nêmesis é vazio, os personagens não possuem motivações claras. Menos mal que a minissérie é composta de apenas quatro números, porque fica difícil ficar preso a ela por muito tempo.

Essa imagem explodiu a escala de massaveísse


O ponto positivo fica pela arte de Steve McNiven. Apesar de estar um pouco abaixo do seu trabalho em Gerra Civil (que é FODA), ainda chama muito a atenção. Também vale a pena mencionar a edição da Panini, que disponibilizou a obra em formato encadernado, papel de qualidade e preço muito atraente (22 reais). 

O saldo geral não é negativo, mas deixa a desejar. Não é uma má história, pois Mark Millar sabe escrever cenas de ação divertidas e alguns plot twists interesantes. Mas o roteiro é descartável, falta profundidade para os personagens e tudo parece uma desculpa para enfileirar passagens cinematográficas - uma atrás da outra, praticamente. A arte de qualidade e o preço ajudam a agregar valor ao encadernado, que se destaca mais pelas suas qualidades técnicas do que qualquer outra coisa.




Recomendado para: quem está com as leituras em dia e quer algo novo para colocar na estante. Fazendo uma analogia bem vagabunda, Nêmesis é tipo bala de café: tu até compra, mas só se não tiver nenhuma outra melhor. A história é divertida, mas apenas isso.


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