O Segredo da Cabana (2012)




É inevitável.

Desde o momento em que surge, qualquer subgênero temático está ameaçado de saturação e encheção de linguiça.
Mas por algum motivo ímpar, em se tratando de histórias de terror, a iminência da cagada é uma constante.


Facilmente as mais diversas abordagens rumaram para a repetição e descrédito de qualquer nova obra que venha com um cartaz similar, e mais violência banal em detrimento de qualquer coisa que possa realmente assustar.
E claro, o bocejo é reincidente sempre que alguém menciona uma sinopse sobre um grupo de jovens em um fim de semana de curtição que acaba em desmembramento.
Assim sendo, é bem estranho perceber que o hoje hypado Joss Whedon tem o nome dividindo os créditos de roteiro com Drew Goddard em O Segredo da Cabana.


O filme dirigido por Drew Goddard parte da premissa difamada com o passar dos tempos, em que o
quinteto de estereótipos terá de suar groselha por entre as lacerações perpetradas por algum sádico inconveniente.
O constrangimento é tanto ao conhecê-los que é de se questionar se Whedon ainda teria tantas contas a pagar após dirigir “Os Vingadores”, a ponto de permitir seu nome vinculado a esta releitura de tantas bobagens inlocáveis ou indownloadáveis.
O ponto que torna assistir algo ao menos um pouco intrigante é o clima trabalho de escritório existente na história em paralelo que se desenrola, e que é o verdadeiro segredo da cabana, tendo em vista o título em português.

Com o passar dos minutos, o filme vai deixando claro que a trama vai ter algo além do destrinchamento humano cotidiano, e isso se deve a um motivo muito simples: dessa vez, por incrível que pareça, este longa-metragem de matança na floresta possui um roteiro.
A dinâmica entre humor e caricatura, que a princípio constrange logo vai tendo seu papel na estrutura evidenciado.
O Segredo da Cabana começa tão aparentemente gratuito que sem querer o espectador o ama se espera mais um filme genérico, ou o abomina caso queira algo diferente, mas sua verdadeira sacada está quando, ao se maquiar de obra  convencional ele decide desmascarar as convenções.
Isso inicia com os protagonistas e eventuais vítimas randômicas.

 
O mocinho (Jesse Williams), a virgem (Kristen Connolly), a periguete (Anna Hutchison), o atleta (Chris Hemsworth), o chapado (Franz Franz). Nenhum deles é o que seu estereótipo manda, e até pra isso o roteiro tem esclarecimentos.


E isso sem soar cult ou pretensioso.
Ele caminha o tempo todo com esse ar de gore adolescente, mas em meio a tudo isso despeja reviravoltas e soluções com as quais o subgênero e seu público não estão habituados, além de dialogar com o nerd oldschool teimoso que ainda busca torrents de trash movies modernosos.

É um sem-fim de referências a obras clássicas do terror que povoam o meio pro fim da produção que trazem a nostalgia de tempos melhores em visitas às locadoras que já fecharam suas portas, e de eras imemoriais em que a busca não ocorria obrigatoriamente na sessão de filmes recém lançados.
A verdade é que, a quantidade de ideias é tanta, e as soluções espertas idem, que em meio ao gore, humor negro, destrinchamento de clichês e de pessoas, o roteiro do filme consegue até mesmo sugerir um motivo para essas obras tantas vezes repetirem a mesma fórmula. Ao destruir os padrões, ele propõe uma quase explicação para os porquês de isso ser refilmado ad infinitum.


Ainda que possa ter passado despercebido pra quem só assiste filme 3D, ou a lista de indicados ao Oscar, ou que acha que filme de terror só é bom quando é igual ao anterior assistido e esquecido, O Segredo da Cabana persiste na memória de quem o assiste com o olhar em sintonia com a ousadia escrita por Joss Whedon e Drew Goddard.
Da mesma forma que Pontypool foi para as histórias de zumbis modernas, ou Sede de Sangue, do diretor Chan-Wook Park para os vampiros apresentados à geração atual, Cabin in The Woods era mais uma dose cavalar de novidade que a cultura pop necessitava pra ter esperança de que as histórias de terror ainda podem reservar alguma surpresa partindo dos elementos básicos os quais foram entretenimento e arte para tantas gerações, antes de se tornar mero subsídio pra um novo “Todo Mundo em Pânico”.
A qualidade de “O Segredo da Cabana” não é somente prestar o devido respeito aos clássicos, e sim demonstrar que enfim era momento de o cinema de terror arriscar alguns passos além do comum.

Obs.: não reparem que eu tenha escolhido imagens tão desinteressantes para ilustrar a resenha. Foi meu respeito em EVITAR spoilers. 
De nada.


Quanto vale:


O Segredo da Cabana
(The Cabin In The Woods)
Direção: Drew Goddard
Duração: 95 minutos
Ano de produção: 2012
Gênero: Terror

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